segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Imagem da saga humana

Diante da exposição de uma fotografia, me vejo transportado para dentro daquele ambiente. Parece que estou em transe. Fico sem palavras e meus pensamentos já não fluem. É como se fizesse parte daquele povo que anda sem rumo certo à procura de algo que perdeu, de uma identidade. Vida que ali reinou fotograficamente registrada, destruída entre concretos. É como se a alegria se perdesse nos escombros e esperança em direção à busca da sobrevivência.

Sensação ao ver uma fotografia do trabalho “Êxodo”, de Sebastião Salgado na cidade de Cabul, no Afeganistão após a invasão dos Estados Unidos. A exposição completa que ainda não tive oportunidade de ver retrata uma história continuada, que para Sebastião parece não ter fim, de pessoas que sentem obrigadas a mutar-se diante das inovações tecnológicas e a disputa pelo poder.


É na verdade uma continuação de “Trabalhadores” que mostra o êxodo rural para os grandes centros urbanos após o fim da revolução industrial. Ambos trabalhos buscam o mesmo envolvimento em sensibilizar e mostrar as transformações que o ser humano vem sofrendo, principalmente com a revolução tecnológica em sociedades que perdem suas referências. Ou mesmo as referências são roubadas do cidadão com a globalização. O efeito desses fatos é o tema do trabalho que foi fotografado em 41 países.

Mais do que ideologia, as fotografias de Sebastião têm o objetivo de criar uma consciência analítica do apreciador em relação à fotografia de forma que esses fatos sociais se tornem visíveis por aqueles que ainda estão limitados pela falta de percepção. O ideal para o fotógrafo seria que todas as pessoas do mundo tivessem estilos de vida igual a dos países ricos. E isso segundo ele não ocorre por falta de recursos naturais, visto que há o suficiente para criar um mundo melhor. E sim por falta de debate e conscientização universal.

Boa parte dos trabalhos de Sebastião retratam a luta do ser humano pela sobrevivência e dignidade. Diante de seu contato direto com fatos sociais, teve que voltar à trás em sua posição ideológica sobre e evolução humana. Encarava-a como algo bom para as pessoas, mas descobriu que na verdade foi um retrocesso e acredita que a inteligência humana é mais a sua capacidade de adaptação rápida em novos ambientes.

Exemplo do êxodo, o fotógrafo que se formou em economia na USP, nasceu e viveu em uma fazenda até seus cinco anos de idade. Aos 15 anos migrou para Aimorés, Minas Gerais de onde sairia anos depois para um grande centro urbano, a cidade de São Paulo. Mais tarde a vida lhe prega mais uma peça e, por motivo político, teve que deixar o Brasil sentido França. Mesmo após 31 anos ele diz se sentir em um estrangeiro em uma terra estrangeira.

Sebastião que trocou economia por fotografia é reconhecido internacionalmente e dono dos mais importantes títulos e prêmios de fotografia. Entre os trabalhos de maior repercussão, estão “Êxodo” e “Trabalhadores”, já citados anteriormente; “O Homem em Pânico”, onde retrata o ser humano nas mais extremas condições de vida, no entanto, perseverante na busca da dignidade; “Terra” onde mostra a luta dos sem terra em busca de uma fatia mal distribuída.

Preocupação com a ação devastadora do homem sobre a natureza e destruição das condições de sobrevivência no planeta também é produzida em fotografias de conscientização. Sebastião criou inclusive um programa intitulado de “Laboratório para restauração do planta nas áreas destruídas”. Onde obtém verbas para criar cursos de formação de professores de ensino básico, técnicos em agronomia, políticos e fazendeiros.