sábado, 10 de maio de 2008

O protesto da esquerda no 1º de maio

Uma pequena multidão da esquerda radical se reuniu hoje (1º de maio) na Praça da Sé para protestar e reivindicar os direitos trabalhistas. O número de pessoas é tímido em comparação aos seis milhões esperados nos palcos da Força Sindical e da CUT.
Bandeiras encobrem a pequena multidão. Protestos acontecem também por meio de manifestações culturais, teatro e dança ao ar livre. Bonecos gigantes dançam no meio do povo. Há barulho com tambores, panelas e objetos diversos.
Os estudantes fazem sua parte e são um dos principais responsáveis pelo barulho. Com cornetas, tambores, trombones eles gritam e cantam seus hinos de protesto. Diego Siqueira, de 24 anos diz que participa de movimentos sociais desde os 16, quando ocupou a sede da Fuvest, exigindo isenção da taxa de inscrição do vestibular. “Somos uma minoria que quer se transformar em milhões na luta pela segurança, contra o desemprego, e a precarização do transporte coletivo oferecido ao trabalhador.”
É mais do que comemoração, aliás, não é comemoração. A cada um que se perguntasse “O que faz aqui”, a resposta parece que foi combinada: “Reivindicando melhores condições de trabalho”. Mas não era a única reivindicação, os ativistas gritavam pela redução da jornada sem redução do salário, 13º para todas as classes de trabalhadores e outras propostas.
Segundo André Ferrari, ex sindicalista, ex professor e hoje empenhado na luta de classes por causas comunistas, a ação não é uma festa, nem sorteio de carros e apartamentos, pois, não há o que se comemorar enquanto o trabalhador é explorado e se tem aproximadamente 10% da população nacional, aptos ao trabalho, desempregada. Ele afirma que o verdadeiro sentido combativo do primeiro de maio é mascarado pela burguesia com festas. “Não há o que comemorar quando se tem uma reforma trabalhista que tira os direitos dos trabalhadores.”
Ironicamente, um ato que visa defender os direitos dos trabalhadores, não estava lotado deles. O manifesto político teve como público praticamente os moradores de rua da Praça da Sé, visto que as demais pessoas participam de algum grupo ativista ou partido político.
Para André, os poucos presentes vale mais do que os seis milhões que estarão nos outros palcos, pois, são pessoas condutoras de ideais e participam ativamente em seus locais de trabalho e na sociedade. Ele vai mais longe e critica a CUT e a Força Sindical. “Alguns carros e apartamentos não resolverão os problemas da classe trabalhadora. Relativizo essas manifestações, pois, quem está lá não está apoiando esses sindicalistas, eles estão lá para ver seus artistas, estão se divertindo.”
Quando o palco móvel saiu pelas ruas do Centro da capital paulista, parecia que as pessoas se tornaram mais enérgicas. Os tambores soaram mais fortes, o desejo de mudança parecia evidente e sincero. Do palco, Zavalão, outro ativista de esquerda ainda mais radical criticou a CUT e a Força Sindical de tomarem champanhe e comemorarem o assalto ao bolso do trabalhador. Disse ainda que os objetivos dos radicais é a independência da classe trabalhadora, que pensa além do socialismo e caminha rumo ao comunismo.

Irreverência e autenticidade da banda Porcas Borboletas

A Virada Cultural também foi a virada das oportunidades. O palco Festivais independentes com nome sugestivo é a prova disso. Bandas vieram de diversas partes do país para se apresentar e certamente é uma experiência positiva para os artistas anônimos.
Quando o dia amanheceu no espaço do Páteo do Colégio, havia apenas um público tímido, mas à medida que o Sol foi se mostrando, pessoas à procura de arte e músicas alternativas começaram aparecer.
Faltando quinze minutos para as dez horas de domingo (27) o grupo Porcas Borboletas, de minas Gerais, se apossou do palco e, fez o público cantar suas músicas desconhecidas. Irreverente, um dos vocalistas da banda, Tanislau, de 30 anos fez brincadeira e despertou a galera fazendo muitos dançarem suas músicas que parecem rock, mas não é bem isso lembra o pop, mas também não é. É como o próprio grupo gosta de se intitular “Porcas Borboletas é uma banda sem rótulos, mas com logotipo”. Em síntese, uma marca própria.
A apresentação foi mais do que musical, foi teatral. É como se os cantores e músicos se tornassem também atores. Tanislau diz que é muito gratificante poder apresentar para uma platéia tão numerosa em São Paulo. “É uma oportunidade e tanto que nós e outros colegas temos de apresentarmos nossos trabalhos”. Diz.
Não pude entrar na parte interna para entrevistar os artistas, mas pedi para chamá-lo e ele veio responder minhas perguntas com a maior simpatia. Como os ensinamentos do livro “O Monge e o Executivo” aí é que está o segredo do sucesso, a humildade.
Quem procurou música alternativa diz que gostou. Julia Spelta, 19 anos ficou sabendo do grupo por intermédio de um amigo. Ela que estava nas ruas desde a abertura da Virada às 18 horas de sábado diz que pretende ficar até o final. “Quero fechar com chave de ouro, com Rock alternativo. Estou gostando muito da apresentação do Porcas Borboletas”.
Julia diz que a Virada Cultural é um evento positivo para a cidade e para os moradores porque proporciona oportunidades não só para os artistas, mas promove a cultura para todos.

Faces da Virada Cultural

Ontem e hoje, 26 e 27 de abril, as ruas de São Paulo foram tomadas por uma multidão. Tem cultura para todos os gostos e os mais variados biotipos de pessoas com objetivos comuns: se divertir e curtir a virada cultural.
Ruas e Praças como a Julio Mesquita e República, que normalmente serve de abrigo para mendigos, de repente são preenchidas com música, cultura, alegria, drogas e as mais variadas bebidas.
Em cada esquina da região central, uma manifestação cultural. É uma exposição de estatuas humanas no Viaduto do Chá, é um show de rock na Praça da República. São palhaços que se equilibram no monociclo e atrizes que interpretam a literatura brasileira na Rua São Bento. Janelas se tornam camarotes.
A cada esquina, uma nova descoberta. Amigos se reúnem para tocar flauta e tam-tam, uma combinação que resulta em um som semelhante ao maracatu. Vencidos pelo cansaço, muitos se rendem e dormem na grama, outros exageram na bebida e passam mal. Sujou a rua, fez xixi na calçada.
Os amantes da dança se reúnem em vários lugares. O Teatro Itália é um deles, em uma espécie de aula e apresentação de dança de salão. Quem chega fica à vontade para dançar com um instrutor, ou não se preferir. Aí, mais uma vez se manifesta o encontro de gerações.
Ambulantes e comerciantes defendem seus ganhos. Vendem tudo rapidinho e correm para repor as mercadorias. O evento aqueceu sua economia. Os estacionamentos também agradecem o movimento.A festa é democrática! Em outro ponto, música eletrônica. Djs em um globo colocado no alto agitam a galera. Há até inovação: o "silent disco", onde se ouve o som em um fone de ouvido. Quem não se ateve perdeu celular, máquina fotográfica... Aqui "pode" fumar maconha, e cheirar cocaína livremente. Se você entrou lá enganado foi difícil sair.
Os prédios estão iluminados, parece que a cidade está mais viva, artistas fazem malabarismo no ar.Do outro lado, na Praça da República, um morador de rua procura entender o que está acontecendo. Sua expressão não é de satisfeito. Sentado na grade do jardim, é como se ele falasse consigo " invadiram meu lar, estou com sono, mas com esse barulho é impossível".
O dia amanhece, mas a cidade não esvazia. Muitos literalmente viraram. No palco das "Produções Independentes", um pequeno público independente. O Sol ilumina, muitos dormem e os eventos não param.
Já dá para perceber algumas conseqüências. O lixo vai se aglomerando nas calçadas e gramados. É um evento grande e organizado, isso é normal! As pessoas precisam se conscientizar.A tarde vai cedendo espaço a uma noite agradável. Alguns palcos encerram suas atividades, mas o público não quer ir embora. Aglomera-se onde tem música. A Praça Júlio Mesquita não comporta mais pessoas, é preciso se espremer.
A diversão final fica por conta de Jorge Ben Jor. Ainda há energia e o público quer gastar. Estouram os fogos, o público vibra com desejo de "quero mais" e começa voltar para casa. Acabou!E amanhã como o centro estará?

Teatro Municipal abre as portas para o público

Um dia diferente no Teatro Municipal de São Paulo. O glamour dá espaço às filas, as roupas de gala são substituídas por tarjes informais. Os moradores de São Paulo têm a oportunidade de conhecer o interior do tradicional teatro.Durante as 24 horas da Virada Cultural foram apresentados nove espetáculos, reedição de discos das décadas de 60 e 70.

A Cantora Márcia Barbosa, que cantou canções do disco "O importante é que nossa emoção sobreviva" diz que está vislumbrada com a com o evento e se emocionou com a receptividade do público. "Eventos como esse deveriam acontecer pelo menos a cada três meses" diz Márcia.Segundo a cantora a Virada Cultural é em resumo, uma democratização da cultura, pois, permite que pessoas que nunca entraram no Teatro Municipal, por exemplo, contemplem uma arte até então desconhecida e pouco difundida. "As pessoas não podem ser obrigadas a assistir uma coisa que não gostam". Completa Márcia.

Do lado de fora do teatro o público aglomerava se em filas com centenas de metros. Foi assim durante toda a noite de sábado e no domingo, principalmente uma hora antes de começar os eventos.A estudante Flávia Alves, de 21 anos, que estava na fila antes de começar o show "Onze sambas e uma capoeira", com Paulo Vanzolini, diz que sempre teve vontade de conhecer o teatro e assistir um espetáculo, mas nunca teve a oportunidade. "Estou ansiosa e espero que goste".Virginia Batista, 19 anos, também estudante, ainda não tivera a oportunidade de assistir um espetáculo no teatro municipal. Segundo ela suas condições financeiras não possibilitam. "Gostei muito da apresentação, superou minhas expectativas".

Nomes como Marcos Pereira, Ana Bernardo, Cláudia Moreno e Germano Mattos interpretaram músicas do sambista Paulo Vanzolini. Apesar de ter gostado da apresentação, Virginia afirma que só conhecia o Paulo de nome, por ser um dos percussores do samba de raiz, os demais artistas, jámais ouvira falar. Segundo ela, porque as pessoas de forma geral ficam bitoladas na mídia de massa. "A mídia nos priva de conhecer mais a cultura de nosso país, por conta da indústria cultural" completa Virginia.Nas saídas das apresentações falta glamour, mas sobrou expressões de prazer e satisfação nos rostos das pessoas.

Gal Costa na Virada Cultural

Noite de sábado, clima agradável e cenário propício para uma Virada Cultural perfeita. A cantora Gal Costa enche a Praça Julio Mesquita, Palco São João, de pessoas alegres e divertidas.
Enquanto ela canta seus principais sucessos, o público dança, bate palmas e vibra quando ela sacode seus cabelos. Casais trocam carinho e ficam agarradinhos. Devido à aglomeração de pessoas, há também xingamentos, empurra-empurra, mas nada que estrague a festa.
O show de Gal como o encontro de gerações. Havia vários grupos de jovens senhores e senhoras com mais de seus sessenta e alguns anos. O Sr. Jorge Ghussn, 67, é um deles. Ele veio de Ibitinga, interior do Estado, para curtira a Virada Cultural.
Exibindo jovialidade, o Sr. Jorge mostra que está em forma, dançando e se divertindo no meio da galera. “Estou me sentindo integrado e à vontade para me divertir” Ele se diz contente por estar vivendo uma experiência inédita e sua vida e por já ter curtido quatro horas de festa e não presenciar nenhuma cena de violência. “Estou gostando e admiro muito a Gal”. Completa.
Mas ele não era o único, havia centenas de jovens com sua faixa etária. Diferente dele, a Sra. Otília Husek, também de 67 anos, teve a festa praticamente na sua porta. Ela que em 2007 ficou até as quatro horas da manhã pretende repetir a dose. “Não sei se vou agüentar, mas voltarei amanhã para acompanhar outras programações”.
O show de Gal e a Virada no geral, foram acompanhados por muitos turistas vindos do interior de São Paulo, Paraná e outros estados.